13 PORTAS - PARTE I
- Eva Ribeiro
- 25 de set. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 28 de set. de 2022

Percorro um longo corredor e porta atrás de porta vou avançando, mas sem entrar em nenhuma delas, apesar da curiosidade em espreitar, ver o que cada uma contém, mas inibo-me, para já de o fazer…tento resfriar o impulso que me assola e que se apodera de mim e me faz querer tudo desmesuradamente e consigo, pelo menos para já.
Respiro fundo e continuo a caminhar, pois o corredor é longo e as portas tem uma distância considerável entre elas…quase que se como um espaço de tempo para assimilar o percurso...
Não sei como fui ali parar, mas quando soube que a única regra era que haveria 13 portas, poderia entrar nas que quisesse, mas uma vez lá dentro, só conseguiria sair depois de descobrir a chave que me permitiria voltar a sair pelo mesmo local onde tinha entrado. Imediatamente sinto-me compelida e ir…apesar do receio do que cada porta possa esconder, mas foi precisamente o não saber, o querer descobrir, o inesperado que me fez aceitar este desafio sem hesitar. Uma prenda de um amigo especial e que só me disse que seria um estímulo aos sentidos, uma experiência sensorial sem igual…orgásmica em alguns casos e é essa palavra que se crava na minha mente.
Nenhuma das portas está fechada, por isso posso entrar em qualquer uma quando me apetecer…e depois fechá-la e aguardar pelo que ela encerra no seu interior.
No fundo do corredor existe também uma porta, ou seja, há 6 portas de cada lado e uma ao fundo…a 13ª....olho para aquela porta com um interesse especial, sabendo perfeitamente que não irei iniciar por ela, não já...
E por momentos, paro, olho para mim e fico a pensar se ao escolher este vestido preto, sem costas, apenas preso por um laço no meu pescoço e caindo a direito pelo meu corpo, se foi a melhor opção. A verdade é que salienta as minhas formas e termina estrategicamente a meio das minhas pernas. As sandálias são da mesma cor, mas com um traço prateado e que combinam com a pequena carteira que escolhi. Não fazia a menor ideia do que vestir e quando questionei o meu amigo, a única resposta que obtive: deves vestir aquilo com que melhor te identificas. E foi exactamente o que escolhi.
Mas agora, diante de todas aquelas portas, as que estavam à minha frente e as que tinham ficado para trás, fica a vontade de saborear este momento em que espero, em que sou responsável por uma escolha, mas que farei às cegas…e que me levará certamente a algum lado, mas que terei de descobrir qual.
Paro entre a porta três e quatro e hesito em qual entrar…se na nº3 ou se na nº 4…e opto pela terceira porta. Não bato, simplesmente rodo o manípulo e abro-a. Não consigo ainda ver nada para o interior e o meu coração dispara nesse momento, não por medo…mas por não saber o que me aguarda. Fecho a porta atrás de mim e fico, literalmente encostada a ela, tentando que os meus olhos se adaptem à escuridão. A porta está fechada…e não abre sem uma chave que tenho ainda de encontrar.
Curiosamente a escuridão, pouco depois de ter fechado a porta começa a dissipar-se e à minha frente estende-se um longo corredor, tenuemente iluminado por velas suspensas em candelabros. Percebo que foram recentemente acesas porque a cera que derramam não é ainda suficiente para pingar. E o chão é aveludado, um veludo mesclado com diferentes tonalidades de cinza. E naquele momento, não pensando no que segue, tiro as sandálias e sinto aquele veludo por baixo dos pés e para além do que os olhos vão apreciando, esta é a primeira sensação que registo. Não vejo ninguém e continuo a caminhar. Ouço o crepitar da cera…e o meu corpo reage àquele estímulo, a pele fica eriçada e os mamilos salientam-se através do tecido…
Apetece-me pegar numa das velas e fico parada a olhar para uma delas, um olhar fixo que me faz parar no tempo…mas avanço, com firmeza para o candelabro e tiro uma das velas. A cera começa a escorrer, mas gosto da sensação…sinto-me ainda mais quente…e já um pouco excitada, sem ter qualquer elemento que me provoque isso...apenas o crepitar da cera, o sentir a cera escorrer, o cheiro que também liberta…e a leveza e suavidade que experimento a cada passo que dou.
Chego ao fundo do corredor e sou obrigada a virar à esquerda e a seguir deparo-me com uma ampla sala, que é o prolongamento do cenário anterior, mas tem um homem em cada canto, apenas com um manto com capuz a cobrir o seu corpo e de olhar fixo no horizonte. Entro devagar e é uma mulher que se aproxima de mim. Veste uma túnica apenas presa num dos ombros e de cor branca, deixando revelar não só as formas, mas a cor escura dos mamilos…e o cabelo de castanho escuro e solto em largas e perfeitas ondas, como se tivessem sido desenhadas. Tenho alguma dificuldade em fixar o meu olhar no dela, dada a quantidade de estímulos que me rodeiam…os homens, a cera que escorre sobre a minha mão e a mulher que tenho diante de mim e cujo semblante já me fez reagir.
- O que desejas Eva? – Perguntou-me sem hesitação.
- Como sabes o meu nome? – Pergunto, tentando ganhar tempo e defender-me, nem sei bem de quê.
- O que desejas Eva? – Voltou a perguntar-me…ignorando a minha pergunta.
- Sentir…o que nunca senti: prazer, que supere tudo o que até hoje senti…e marcá-lo no meu corpo, seja de que forma for: sangue...suor...lágrimas...esperma...
- Então vem comigo…
E eu vou.
Cuidado que o inferno tem portas que quando se abrem podem ser surpreendentes.😎