MANAROLA - PARTE II
- Eva Ribeiro
- 18 de mar. de 2021
- 5 min de leitura

Chegara a Manarola há poucos meses, os suficientes para recomeçar a escrever e naquele momento poderia dizer com toda a certeza que, a continuar assim, poderia regressar a Portugal brevemente…o livro estava quase pronto.
Instalara-me numa pequena villa relativamente perto do Centro da Cidade, tendo pesado para a sua escolha o localizar-se num local relativamente isolado, numa encosta e com uma vista magnífica sobre o mar e um acesso privilegiado a uma pequena baía onde este desembocava. Sentia-me verdadeiramente em casa e mais ainda quando decidi comprar uma mota de cor preta – Piaggio NGR Power 50 DT para os meus passeios pela cidade e um pequeno barco Sea Ray 175 STC Sport.
A cidade era pacata e agradava-me sentir-me em casa e ao mesmo tempo longe de tudo.
Adorava as manhãs porque me levantava e abria a enorme janela do meu quarto, cuja vista era uma verdadeira inspiração: o mar até perder de vista e se confundir com a linha do horizonte…para de seguida, dar alguns passos no exterior da minha varanda e perder-me com o azul do mar. A casa não era muito grande e com apenas dois andares tinha um quarto com casa de banho, uma pequena sala com a cozinha na mesma divisão e um pequeno pátio exterior com uma mesa em ferro e algumas cadeiras em volta.
Não tinha sítio certo para escrever…pelo que tinha blocos de notas espalhados pelos vários recantos e inclusive andava sempre com um na carteira.
Habitualmente tomava o pequeno-almoço no pátio e depois subia para tomar um banho e depois saía…sempre de mota e geralmente rumava ao centro da cidade, onde faria algumas compras e depois sentar-me-ia para tomar um expresso no Café Aristide. O dono já me conhecia e já se tinha habituado à minha presença que apesar de não poder ser considerada discreta, era-o na realidade. Trocaria comigo algumas palavras em italiano e depois cumpria a minha promessa de lhe ensinar algo em português. Não sabia nada de mim, sabia apenas o meu nome e o que me fizera permanecer na ilha e respeitava o meu espaço. Aliás todos os comerciantes com que me cruzara e que já me conheciam tinham isso em comum, algo que eu prezava significativamente e que me mantivera ali confortavelmente.
Regressaria a casa perto da hora de almoço, faria uma refeição e por pequena que fosse, dar-me-ia um prazer imenso confeccioná-la e depois saboreá-la no pátio. Sim, podia dizer-se que estava só, pela primeira vez na vida, mas não me sentia só….não ali…aquele local enchia-me a alma.
Depois de almoço, deitar-me-ia um pouco no sofá e depois da vã tentativa de ler um livro ou folhear uma revista, sei que dormiria um pouco e acordaria com vontade de caminhar…e era a única altura do dia em que saía a pé de casa. Caminharia sem destino, fosse pela encosta até ao centro (cerca de 1 km) ou desceria a encosta em direcção ao barco. Sentiria vontade de escrever e se isso acontecesse, pararia na primeira oportunidade e tiraria algumas notas do que pretendia e no primeiro local que conseguisse parar, escreveria a ideia que desenvolveria mais tarde.
Num desses dias, alguns meses depois de ter chegado à cidade, fiz esta caminhada, embora fosse mais tarde do que me dei conta e fui até ao centro. Entrei na Cantina Dello Zio Bramante para tomar um expresso e talvez comer alguma coisa. Quando entrei percebi que estavam poucas pessoas sentadas e um turista sentado ao balcão. Moreno, olhos escuros e vestido com uns jeans e um pólo de cor escura. E enquanto analisava o ambiente envolvente o meu olhar cruzou o dele…apanhara-me claramente a observá-lo e não consegui fingir, devo ter corado ligeiramente e sorri. Era diferente dos turistas que costumava ver e que habitualmente me confundiam com uma residente e me olhavam com curiosidade e algo mais que já identifico com facilidade. Ele olhava-me de forma diferente e isso intrigou-me.
Confesso que ia pedir algo para comer ao empregado, mas depois daquele momento só consegui pedir um café…aquele breve encontro lembrava-me o que tinha deixado para trás e não me apeteceu confrontar-me novamente comigo mesma. O empregado estranhou que eu não pedisse mais nada porque estava habituada a fazê-lo…e ele habituado a dizer-me o que eu deveria escolher. Mas naquele dia só me apetecia fugir dali.
Saí tão depressa como entrei e nesse dia, fiz algo diferente, regressei a casa e sentei-me no pátio com a luz de uma pequena vela e comecei a escrever. Escrevi mais nas horas seguintes que nas duas últimas semanas…não que tivesse escrito pouco ou que estivesse a quantificar o que escrevia…mas algo acontecera. Parei já de noite e com fome, sendo apenas nessa altura que me apercebi que me tinha esquecido de jantar. Preparei uma esparguete com a habilidade que costumava fazer…e um molho de natas, cogumelos e bacon, regado com vinho branco e ervas aromáticas. Abri uma garrafa de vinho e comecei a comer. Gula, sem dúvida um dos meus maiores pecados e naquele momento estava a satisfazê-la…sabia que não podia comparar este prazer ao prazer de ter um orgasmo, mas naquele momento comer aquele prato de esparguete quase poderia ser comparável a um. Terminei a refeição pouco depois e precisamente com uma vontade imensa de me masturbar, ali mesmo, no pátio de minha casa. Sem reservas, cedi ao impulso…tirei o vestido preto, depois as cuecas, deixando apenas ficar o colar de pérolas e os sapatos altos. Comecei a tocar o meu corpo nu, desde o pescoço até ao interior das pernas…e foi a imagem daquele turista que tomaram conta do momento, do olhar dele e do desejo que sabia que desencadeara. Não me contentei com um orgasmo…perdi a conta ao fim do quinto…e quase podia jurar que quando terminei e me levantei para arrumar a louça do jantar, continuava com vontade…o meu desejo não fora plenamente satisfeito.
Tomei um expresso e depois quando subi para um banho, percebi que estava a amanhecer e que tinha passado a noite sem dormir, a escrever, a comer e a masturbar-me. Tinha sido uma bela noite, concluí quando peguei na mota e conduzi em direcção ao centro.
Desci em direcção às rochas à beira mar e voltei a vê-lo. Quase poderia jurar que ele não tinha dormido, mas rapidamente assumi tratar-se de uma fantasia minha. Caminhei ao seu encontro e senti que ele se preparava para me dirigir a palavra. Desviei o olhar, sentei-me pouco me preocupando se o vestido branco que trazia revelava mais do que eu pretendia mostrar, e fitei o mar em busca da tranquilidade que me faltava, que já me faltava.
Ficamos em silêncio algum tempo até uma onda nos molhar de alto abaixo. Ouvi-te praguejar e numa língua que já não ouvia há alguns meses: em português.
Olhei o meu corpo e percebi que o meu vestido estava completamente colado ao meu corpo, revelando a forma dos seios e os mamilos escuros e um pouco mais abaixo, viam-se as cuecas reduzidas que trazia. E corei mais ainda e pior, trinquei o lábio, gesto que já me tinha esquecido de reproduzir. Olhaste para mim nesse momento e vi-te perdido, perdido como eu também já estava. Ergueste-te e vieste na minha direcção. Envolveste os teus lábios nos meus, um beijo quente e que eu correspondi plenamente…devolvendo-te tudo o que sentira nas últimas horas, mesmo não estando tu presente, mas tudo se devendo a ti…até sentir a tua língua provocar a minha…até sentir o teu corpo puxar o meu ao seu encontro e sentir a erecção que não te coibiste que eu percebesse por detrás dos jeans…
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