ENCONTRO CASUAL - PARTE I
- Eva Ribeiro
- 26 de mar. de 2021
- 4 min de leitura

(A versão dele)
O dia ainda estava a começar, tal como todos os restantes!
8h00 e ele sentado a tomar já o segundo café, folheando o Jornal.
Ela, passa junto da mesa, arrastando um perfume que fica no ar!
Dolce Gabana...Tommy...?! Sem dar por isso a atenção deixa o jornal, apesar de os olhos se manterem no mesmo...e o cérebro fica a tentar identificar a fragrância!
O perfume é-lhe familiar...
A curiosidade faz-lhe ir procurar a fonte!
Olha-a, enquanto ela se senta! Ela nesse momento repara que foi vista!
5 segundos depois, ainda nos olhares colocados, nenhum dos dois pestanejou, mas cedem, para já, às (aparentes) necessárias regras de protocolo civilizacional.
Desviam o olhar, mas não a atenção!
- Eu conheço o perfume - Vagueia a voz no interior, na procura da resposta
Nisto, enquanto ela mexe no telemóvel, o pedido dela chega à mesa, café e torrada! Ouve-se a voz dela pedindo ao funcionário
- Desculpe, hoje vou querer também um pouco de leite...morno...por favor!
O funcionário anui e enquanto ela se retira, certifica-se que eu ouvi, olhando com segurança para o sitio onde estou sentado.
Ajeito a gravata...sorrio levemente, porque reconheço o perfume!
Aquelas palavras, a voz, o olhar....já sei qual é o cheiro!
Cheira a sexo...
Um e-mail desperta-me para a realidade!
- Fodasse estou atrasado para a reunião! - Contrariando o que a minha mente pedia, levantei-me e caminhei exactamente na direcção oposta. Em direcção a caixa, mas fazendo questão de passar bem perto da mesa dela, para sentir uma vez mais a essência!
- Queria abordá-la, mas o relógio estava contra mim! Passei junto, olhei e fui olhado.
- Bom dia! - Exclamei sem nunca parar...
- Esperemos que sim - ouço a resposta, mas fingindo ignorar, nem olhando para trás! Sabia exactamente o que aquilo significava! Eu tinha acertado na marca do perfume.
Na caixa paguei o meu café, e decidi pagar o dela.
Pedi ao funcionário, para lhe dar o meu cartão de visita, quando ele fosse pagar.
Coloquei os óculos de sol e saí.
O escritório onde ia reunir era num edifício próximo, todo vidrado. Subi a torre, e enquanto aguardava na sala de espera, tinha uma vista para a rua onde se situava o café.
Esperava ver-la a sair. Queria apreciar o caminhar dela, o movimento da anca, naquela saia justa pelo joelho, casaco cintado...profissional e executiva!
Rendas pretas... - deambulava já eu....
Quando sou interrompido pelo trabalho! Fui dar inicio à reunião, mas o plano de trabalhos na minha mente já era outro.
No decorrer da reunião, o meu telemóvel vibra. Um sms:
- Obrigado, mas não gosto de me sentir em dívida! Deixei pago o seu, para a próxima. Recomendo o café pingado...adoro!
Respondi
- Obrigado, Irei cobrar. Amanha à mesma hora?
(a versão dela)

8h00 e reparei nele sentado a tomar o seu café e a folhear o Jornal.
Passei junto da mesa dele, propositadamente mais perto que consegui, pois queria que ele reparasse em mim, sentisse o meu cheiro…uma mistura de perfume e algo mais. Sabia que iria conseguir a atenção dele facilmente e não me enganei pois pouco tempo depois de me sentar, percebi-o agitado e, apesar de os olhos dele se manterem no jornal…percebi-o perdido, sem foco. Já conhecia tão bem esta linguagem…
Olhou-me enquanto eu me sentava e devolvi-lhe, com falsa timidez, o meu olhar, para que ele se sentisse ainda mais perdido, desconcertado e acima de tudo perceber que tinha sido apanhado na teia que ele nem sabia que existia.
5 segundos depois, olhava-me…olhava-o…., sem pestanejar nem um nem o outro, mas ele inevitavelmente acabou por ceder e eu também…ceder no olhar, não no foco. Eu tinha encontrado a minha presa enão a iria deixar escapar.
Nisto, pego no telemóvel, um gesto sem sentido, apenas porque sei que estou a ser observada. Delicio-me com a sensação. E finalmente o meu pedido chega à mesa, café e torrada! Parece-me pouco…e não desperdiçando a oportunidade de deixar algo libidinoso no ar, não me inibo de o fazer.
- Desculpe, hoje vou querer também um pouco de leite...morno...por favor! – Peço num tom lascivo…propositadamente para ele ouvir o que eu digo e perceber algo mais. O empregado anuiu ao meu pedido e retirou-se. E nos instantes que se seguem olho para ele e fico certa que ele ouviu o meu pedido…que percebeu, pois vejo-o a ajeitar a gravata enquanto sorri levemente, um sorriso perverso….e percebo que está na minha teia.
Por momentos vejo-o atrapalhado quando olha para o telemóvel…certamente um email ou mensagem que o chama para a realidade. E ouço-o vociferar, enquanto se levanta e caminha na direção da caixa:
- Fodasse estou atrasado para a reunião! – E já em direcção à caixa, fez questão de passar bem perto da mesa minha. Percebi alguma hesitação no andar, quase que uma tentativa de parar por breves segundos. Uma mera provocação ou hesitação? Claramente provocação. Vi-o olhar de novo o relógio e depois aproximar-se mais de mim, olhar-me…despir-me com o olhar.
- Bom dia! – Cumprimentou educada, mas fingindo um desprendimento que lhe colocou o corpo em chamas e lhe consumiu a alma.
- Esperemos que sim – Diz em resposta, mas fingindo ignorar, nem sequer olhando para trás!
Já na caixa, vi-o pagar o café dele e de seguida colocar os óculos de sol e sair. Aquela saída…sem aviso...aquele corpo…aquele olhar…aquele homem…e aquela gravata, daria um excelente adereço. E sou interrompida pelo empregado que me entrega um cartão e me diz que ele tinha pago o meu café.
E nesse momento, cedo ao impulso e pego no meu telemóvel e mando-lhe uma mensagem, simples…mas que o vai deixar à espera de mais…simples, mas que o vai perturbar. E a mensagem segue:
- Obrigada, mas não gosto de me sentir em dívida! Deixei pago o seu, para a próxima. Recomendo o café pingado...adoro!
Reli a mensagem e tive a certeza que o leite morno…o café pingado…a sensualidade dos meus movimentos e dos que ele certamente imaginara iam fazer o resto. Não estava à espera de qualquer resposta, pois admiti-o ocupado…mas a resposta dele não tardou.
- Obrigado, Irei cobrar. Amanha à mesma hora?
Amanha à mesma hora! - a sms que ecoava na minha mente.
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