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Mandas-me a morada do local onde queres que vá ter contigo.
Fico a olhar para o visor do telefone sem saber o que fazer, mas pouco tempo depois, pego numa pequena mala e apressadamente coloco algumas peças de roupa e outras mais vagarosamente, precisamente pela delicadeza que se lhes impõe. Um ou outro adereço que pode fazer falta….e desta vez vou levar umas cartas, um simples baralho de cartas, um livro, o computador portátil, um caderno para escrever e claro…uma caneta.
Saio de casa apressadamente, mas desta vez optei por um estilo mais casual…calças de ganga e uma blusa justa, botas de cano alto e saio…sem olhar para trás. Provavelmente chegarei primeiro, por isso vou descontraidamente a ouvir Muse, que escolhi propositadamente para ouvir naquele que iria ser o nosso primeiro fim de semana juntos, depois de algum tempo separados.
E alguns kms depois…. “ o destino encontra-se à sua direita”.
Reparo num edifício que se destaca de todos os outros, remodelado, mas que me apraz registar que deve ter uma longa história….e eu que adoro boas histórias, fico ainda mais empolgada com a tua escolha. Estaciono no parque e saio do carro. Está frio cá fora e pela primeira vez não me apetece dizer-te que cheguei, apetece-me simplesmente entrar e ficar à tua espera no interior…apetece-me descobrir o que aquelas paredes escondem por detrás da fachada principal.
Quando entro, deparo-me com um ambiente que me faz lembrar o das tertúlias literárias do início do século XX e fico rendida à escolha que fizeste…nunca deixas de surpreender-me. Vou até à recepção e digo que temos uma reserva, mas como ainda não chegaste, pergunto se posso aguardar, por ti, perto da lareira que fica no fundo da sala…em tijolo…verdadeiramente irressitível.
E pouco depois já estou comodamente sentada num sofá, junto à lareira e a ler o livro que trouxe comigo. E, nesse momento, saio por completo da realidade quando começo a ler…deixo-me levar pelas palavras, mas há um perfume que me traz à realidade e eu conheço-o bem demais.
Chegaste, tenho quase a certeza que és tu e quando o perfume se intensifica ainda mais, confirmo que és …mesmo sem te ver. Mas é quando te sinto perto de mim e sem desviar o olhar do livro, digo-te:
- David………meu amor. – Os meus olhos fecham-se e tu colocas-te à minha frente e puxas-me para ti.
- Rita, meu amor….finalmente. Escolhi bem? – Perguntas retoricamente.
Não te respondo, beijo simplesmente os teus lábios e respondo-te a todas as perguntas que querias ver respondidas.
- Sabes, escolheste o local perfeito para fazermos tudo o que gostamos…….ler, escrever, comer, beber, foder e mais importante que tudo……….amar.
Suspiras quando te digo isto….
- Antes de subirmos apetece-me comer qualquer coisa, beber um copo de vinho contigo……que me dizes? – As primeiras perguntas, quando apesar de nos conhecermos desde sempre, não conhecermos assim tão bem o outro.
- Quero….o mesmo que tu…..por favor.
- Só por curiosidade, que estavas a ler? – Perguntas-me curioso.
- Hemingway, o Jardim do Éden….sempre gostei de triângulos amorosos e este é muito bom. – Digo-te sem reservas.
- Puta……… - E o nosso jogo começa ali. – Vou pedir algo para comermos e bebermos e já me contas o que vai nessa mente. Tens alguma preferência? – Perguntas-me.
- Tu sabes o que eu gosto, mas aproveita e repara na recepcionista, pois gostei imenso do decote dela.
Saíste da minha beira com um sorriso que denunciava, não só uma felicidade plena, mas também aquela perversidade que sempre admirei nos homens que foram passando pela minha vida.
Fiquei a observar os teus movimentos… a forma como falavas com a recepcionista e fui percebendo que ela mudou a sua postura à medida que ias falando com ela….ora mexia no cabelo, ora no colar que tinha e que lhe pendia sobre o peito, ligeiramente desnudo e que a camisa encobria, mas descobria o suficiente para me ter chamado a atenção…. e sinto um misto de sentimentos.
Percebo que não estás simplesmente a pedir-lhe dois copos de vinho e algo para petiscarmos, estás a pedir sexo em forma de comida e estás a convidá-la a servir-nos com as tuas palavras…aquelas que me tocam bem fundo na alma e seduzem qualquer mulher.
Já não consigo fixar os meus olhos no livro que tenho em mãos, mas sim na forma como a vejo reagir a ti e levanto-me.
Não digo nada quando me aproximo, mas vejo que olhas para mim deliciado e estranhamente sinto o mesmo olhar dela em mim.
- Rita, estava justamente a falar de ti à Pauline. – Disseste e aquele “Pauline” foi dito e todo o meu corpo reagiu à Pauline. Loira de olhos claros e que aparentava pouco mais de 30 anos.
- Olá Pauline….já nos falámos há pouco e o meu marido é assim, adora falar de mim sem eu estar presente…..e aposto que deve ter dito coisas fabulosas a meu respeito….está sempre a exagerar. – Marquei o meu território da forma mais subtil e perversa possível e ela reagiu.
- Muito prazer. – Disse ela com alguma timidez e tremura na voz e que me deu todas as certezas que eu precisava. - Sim, o marido depois de ter pedido algo para comerem e beberem….falou-me de si. – E baixou os olhos.
- Pauline. – e obriguei-a com a firmeza da minha voz a olhar-me nos olhos. – Se ele falou de mim, falou a verdade….ele conhece-me como ninguém. E gostou do que ele lhe disse de mim? – Perguntei sem saber o que tinhas ao certo dito, mas que pelo embaraço e rubor das faces dela, percebi que ela tinha gostado.
- Sim, muito. – Disse ela timidamente, voltando a baixar o olhar.
E entretanto o nosso pedido acabou por chegar à mesa, onde anteriormente, tínhamos estado e tivemos a desculpa perfeita para ir até lá.
Sentei-me e fiquei a olhar para ti, na expectativa de te ouvir dizer-me algo….e devolveste-me o olhar, o mesmo olhar perverso com que falavas com ela, querendo prolongar aquela tortura….
Peguei num dos copos de vinho e dei um gole para saborear a tua escolha. O vinho era delicioso e os meus olhos fecharam-se….olhei para os pequenos pratos com alguns aperitivos, onde o queijo claramente predominava….e peguei num e meti na boca, lentamente….
- Não tens nada para me dizer cabrão? – Pergunto-te não conseguindo evitar questionar-te.
- Tenho algumas coisas para te dizer….uma delas é que estás linda e ficas ainda mais quando estás com ciúmes. Mas o que me deixa louco é a forma como levas esse copo à boca e esse bocado de queijo e pensas nas mamas da Pauline, que fiquei a saber que é mesmo francesa.
- Só isso? – Perguntei tentando manter a calma.
- Não….não é só. Amo-te muito e logo à noite a Pauline, que adora literatura quer ouvir-te ler uma das tuas histórias….no nosso quarto….que me dizes amor? –Perguntas.
- Tu estás louco…..ler para ela? Tu sabes o que vai acontecer?
- Sim, sei…quero fazer isto por ti…e quero ver até onde vai essa tua loucura comigo…
- E ela? – Perguntei sem saber onde aquela história ia terminar.
- Ela vai acabar nas tuas mãos…depois nas minhas e depois nas nossas………não vai resistir. Fiz mal? – Perguntaste com o maior ar de cabrão do mundo. – Afinal é o nosso primeiro fim de semana juntos e temos tanto para explorar.
- Já te disse que te amo? – Pergunto com o maior ar de puta.
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