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Café com Sabor... - Parte VI

Foto do escritor: Eva RibeiroEva Ribeiro

Hmmm – Ouço-o suspirar quando sente finalmente os meus lábios nele. E apoia-se na parede da banheira, rendendo-se por completo aos movimentos que a minha boca e que a minha língua imprimem…e lhe provocam…

E sento-o, propositadamente numa das extremidades mais largas da banheira e sorvo aquele prazer todo, até ser ele próprio a tentar travar-me pela iminência do orgasmo.

- Nunca fui muito boa a seguir ordens. – Digo-o e recomeço onde havia parado, aproximando-me de joelhos e deixando o meu corpo ainda mais perto do dele, roçando os meus seios nas suas pernas provocadoramente enquanto o continuo a acariciar até ele me brindar com um novo orgasmo.

Anoitecia quando saímos taxi do hotel, apanhando um táxi, em direcção a Navigli.

Rafael falava italiano com o motorista do táxi quase como um nativo, o que me fazia crer que já passara algum tempo em Itália ou então tinha convivido durante um longo período de tempo com algum italiano ou italiana. E naturalmente eu percebia isso porque eu própria tinha vivido alguns anos depois de ter terminado o curso em Milão e sabia que a fluidez do discurso só se conseguia dessa forma e não por intermédio de qualquer curso.

- Onde aprendeste a falar italiano tão fluentemente? - Perguntei-lhe quando o empregado do restaurante que escolhemos para jantar nos servia o vinho, deixando que a luz das velas sobre a mesa realçassem o tom rubi do vinho.

- Francesca…tive uma namorada italiana durante algum tempo e vinha a Itália com frequência. – Percebi que ele fora demasiado conciso na explicação que me dera e a minha curiosidade levou a melhor sobre mim e insisti.

- Nome interessante. – Digo com sinceridade. – A sonoridade….é perfeita…. – Digo tentando disfarçar a minha indiscrição.

E o silêncio instalou-se entre nós e foi a minha vez de revelar algo sobre mim e atenuar aquela tensão que se gerara.

- Quando acabei o meu curso de Design, mudei-me alguns anos para aqui e acabei também por me encantar por este país, esta cidade, esta língua, estes costumes. E…. – E ele interrompeu o meu desabafo.

- E também amaste como eu…

Fiquei sem reacção pelo quanto aquelas palavras me apanharam desprevenidas e me fizeram lembrar de Luca. Corei no mesmo instante e ele percebeu o meu desconforto súbito e pegou no copo de vinho e elevou-o, convidando-me a um brinde.

- Aos bons momentos passados em Itália. – Brindei e ele repetiu o que lhe dissera.

- Aos bons momentos e aos bons amantes. – Sorriu ele perversamente.

E depois de um gole farto, tapeamos as iguarias que tínhamos pedido – tomates cherry com fatias de pão torrado no forno e que são conhecidos como Bruschetta e uma flor, conhecida por Fior di Zucchini com queijo de búfala e anchovas - e Rafael depois de algum tempo em silêncio começou por me contar mais uma das suas maravilhosas histórias.

- Conhecemo-nos num bar e Francesca estava com umas amigas a dançar e não resisti em aproximar-me do grupo delas. Cabelo escuro, apanhado e com vestido curto, solto, às flores e uns saltos altos foram o suficiente para me fixar nela e nos seus movimentos. As amigas foram lentamente abandonando o bar e depois de algumas danças e algumas bebidas, ficamos apenas os dois. E de madrugada, acabamos por nos sentar numa mesa ao fundo do bar a conversar, a rir, a trocar confidências e depois o inevitável aconteceu. Um beijo, um toque mais ousado e já sem qualquer discernimento ou pudor, ela sentou-se em cima de mim e começa a desapertar-me as calças. Estava completamente tapado pelo corpo dela e quando me tocou fê-lo com a maior naturalidade do mundo. Deixei, rendi-me e fiquei ainda mais perdido quando, sem qualquer aviso ela me diz: “vou casar daqui a umas semanas”. E nesse momento obrigo-a a sentar-se em mim, como que castigando-a pela confissão. – E por momentos percebo que a sua memória viaja até àquela noite.

- Rico castigo. – Digo expectante. – Mas e depois?

- E depois foi uma loucura e digo-o em sentido literal. Castiguei-a até ao dia do casamento quase todos os dias, inclusive no dia do casamento. Nesse dia fui a casa dela e, enraivecido, despedi-me dela.

- Hmmm….isso tem um nome Rafael….

- Tem e por isso jurei a mim mesmo que não ia permitir-me entregar-me a mais nenhuma mulher daquela forma. E a partir desse momento sou o que conheces hoje, um homem de negócios, que sabe o que quer e que pede dinheiro pelo que faz e, sem desrespeitar a mulher com quem está, dá-lhe prazer ilimitado mas sem envolvimento emocional. – Confessou, continuando a saborear o prato que, entretanto, haviam disposto à nossa frente: cotoletta alla milanese, obviamente para dois.

- Mas deixa-me discordar de ti. A entrega é fundamental em qualquer relação, seja ela de uma noite, várias, um mês, um ano ou a vida inteira.

- Pois, mas eu entrego-me apenas ao prazer, o resto não faz parte da equação. – Disse com uma frieza que quase me gelou o sangue.

- Um pouco mais de vinho senhora? – Pergunta o empregado num italiano que quase me parece português.

- Sim, por favor. – Respondo, sem favor.

- Afinal não sou a única que passou uma temporada em Itália. Sei que tu também tens algumas histórias para me contar. Luca? – Perguntou Rafael.

- Luca foi um amante maravilhoso, Luigi também…honestamente, perdi a conta ao número dos homens que passaram pela minha vida enquanto vivi nesta cidade, mas uma certeza eu tenho: mudaram-me e fizeram de mim a mulher que sou hoje. Se amei? Amei cada um deles. Se me entreguei? Sim, fi-lo em consciência e faço-o sempre, de outra forma não seria eu.

- Então e eu? – Perguntou ele surpreso por aquela súbita revelação.

- Estás a ser um amante maravilhoso…ao qual me estou a entregar incondicionalmente. Mas daqui a 4 dias há uma certeza, será o último dia que farás parte da minha vida.

- Não esperava que fosses assim…..tão fria. – Admitiu.

- Depois das tuas revelações, entrego-me em função da tua entrega. Dou-te exactamente na mesma medida que tu me dás e se é sexo, terás isso. Depois disso, acabou.

- Achas que vais conseguir? – Perguntou-me.

- Sim, conseguirei. Mas mesmo que me custe, não saberás. Mesmo que me procures, virarei costas, afinal estás a ser pago para me dar prazer e é isso que eu quero. Ter um amante à disposição. E por falar nisso…a sobremesa… - E nisto uma voz feminina interrompe a nossa conversa.

- Rafael? – Ouço uma mulher perguntar quando se aproxima da nossa mesa.

- Francesca…. – Diz ele levantando-se para cumprimentar a mulher que em tempos se cruzou com ele e que estava sozinha, uma vez mais, na noite milanesa.

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