NÃO
- Eva Ribeiro
- 8 de mai. de 2022
- 7 min de leitura
...cala-te...fica em silêncio...
...vê-me...ouve-me...sente-me...mas não me toques...
Fica simplesmente a olhar sem me tocares. Obrigo-te a fazer exactamente aquilo que o teu corpo pede, mas peço-te que não obedeças a isso de imediato, atrasa essa vontade até ao limite e só quando não aguentares mais, deves tocar-te, se for essa a tua vontade.
Eu, estarei simplesmente deitada naquele sofá que conheces...de costas para ti...com a mesma urgência do toque, mas a tardá-lo para meu prazer e a ignorar-te, simplesmente para mimar o meu ego.
A lingerie foste tu que a escolheste, por isso saberás bem o efeito que provoca em ti, sabes o quanto embeleza o meu corpo e destaca as minhas formas. Sim, as que mal te lembras, ou melhor, até te lembras, mas já há muito que não tocas.
E nesta lenta dança, começo a tocar-me, já depois de te ouvir...de ouvir o zipper das calças a ser desapertado. E, nesse momento, viro-me para ti e olho-te de forma perversa, desafiando todos os teus demónios, os que conheces e provavelmente aqueles que ainda vais conhecer, comigo. Apetece-te ceder, dar um passo em frente, na minha direção, mas sabes que isso não vai acontecer...não podes...não te deixaria...
Começas a tocar-te e por entre a tua mão vejo o caralho deslizar, num movimento lento que me incendeia o corpo e me obriga a, também a mim, lidar com os meus demónios. Tento resistir ao ímpeto de tocar-lhe. Vejo-te perdido nos meus olhos escuros, nos meus lábios, que entretanto trinco leve mas provocadoramente e desces o olhar pelo meu pescoço para depois te perderes no tecido rendado que cobre as minhas mamas, deixando levemente a descoberto os mamilos escuros já endurecidos pela excitação que sinto e provoco em ti. E o teu olhar desce, um pouco mais, passando o meu ventre e encontrando outro tecido rendado. Voltas a subir o olhar e é nos meus olhos que o teu olhar se fixa. É o olhar e o que ele te transmite que mais te excita...sou eu...e nesse momento sento-me no sofá, recostando-me confortavelmente...abro ligeiramente as pernas e começo a tocar a renda que cobre as minhas mamas, uma e outra, apertando um e outro mamilo, como que tentando infligir algo que travasse a minha excitação, mas acontece precisamente o oposto disso.
O teu toque lento...acelera...e acelera o meu.
Por cima das cuecas toco-me ao de leve, mas o suficiente para isso ser o rastilho que o meu corpo precisa para explodir.
- Posso? - Perguntas-me, e sem saber a que te referes, mas simplesmente por ser um pedido teu, isso obriga-me a dizer o habitual.
- Não, não podes. - Respondo e afasto as cuecas para um dos lados. Começo a masturbar-me, numa provocação desmedida aos meus sentidos e uma ainda maior a ti, que não sabes ouvir um não e muito menos te deixas provocar sem reagir. Noutros tempos, terias ido embora...nestes tempos, ou obedeces ao que te exijo, ou quem te convida a sair, de novo, sou eu.
A ténue luz avermelhada acentua o pecado, os medos, os desejos...
E aquele vai e vem dos meus dedos na minha cona e com a visão de ti a masturbares-te deixa-me perto do orgasmo mais do que uma vez, mas travo a tempo...a tempo de ainda me virar de costas para ti, colocando-me de quatro. Propositadamente faço com que as alças do soutien deslizem pelos meus ombros e depois as cuecas tomam o mesmo rumo, acabando no meio das minhas pernas. Retomo o toque...a mesma cadência...até deixar os dedos molhados roçarem os meus lábios e pararem estrategicamente no clitóris, esfregando-o, sentindo-o latejar...
Os meus gemidos entoam pela sala...misturam-se com os teus. E venho-me numa explosão de sensações inacreditável, mas o prazer é ainda maior pelo facto de te ter impedido de me ver...de me ver através do meu olhar...
- Deixa-me... - Uma súplica que não me comove, mas mexe comigo.
- Não.
E levanto-me, desfilando já nua perto de ti, obrigando-te a cheirar o meu perfume. Não conheces o aroma. Fiz questão de o mudar, aliás mudei tudo, para não teres qualquer pondo de apoio ou comparação com o que era.
- Mudaste de perfume. Porquê? - Perguntas-me e fico em silêncio a olhar para ti.
- Cansei-me do outro...
- Do perfume ou do que te fazia lembrar? - Perguntas. Sempre certeiro, mas isso obriga-me a mentir.
- Do perfume...deixou de ser o perfume e passou a ser mais uma banal essência...como tudo...e a mudança era inevitável. - Digo e paro atrás de ti, continuando a admirar o teu caralho a deslizar na tua mão...e já com a ponta bem molhada. - Mas gostas deste perfume? - Pergunto, mas antecipo-me à tua resposta. - Não respondas, não é importante.
- Costumava ser...
- Já não é. Demoras muito com isso? - Tento fazer estragos, daqueles que partem.
- Tu não és assim.
- Sou...e tu não viste nada. - Respondo e tiro do móvel atrás de nós um vibrador.
Volto a passar por ti e desta vez puxo uma cadeira e sento-me em frente a ti.
- Queres matar-me? - Perguntas-me.
- É assim tão óbvio? - Respondo e sorrio perversamente, mas ignoro-te. Agora que já me vim, o discernimento é um pouco mais apurado.
- Fodasss, vou-me embora. - Dizes e enfio o vibrador na cona, depois de o pôr a funcionar.
- A porta é ali. - Digo e levantas-te. Não tenho medo se fores, mas sei que não consegues dar um passo sequer. - Hmmm. - E começo a masturbar-me de novo, ignorando o que se passa à minha volta. Entro naquele mundo só meu, onde ninguém entra.
E sem contar, aproximas-te mais de mim, ficando apenas a escassos centímetros. Noutra altura sentir-me-ia tentada a tocar no caralho duro e a lambê-lo até te esporrares na minha boca, mas os tempos mudaram e apesar de as vontades ficarem, ficou muito mais que isso.
- Toca-me. - Pedes.
- Não percebi. - Tento dificultar ainda mais a tua tarefa.
- Toca-me. - Repetes.
- Temos esse limite. - Respondo-te.
- Nunca tivemos limites. - Dizes com todas as certezas.
- Verdade...nunca tivemos, é passado e nós, meu querido, estamos no presente...e neste presente (que te dou), temos limites. - Digo e olho para o teu caralho e a vontade de te tocar é quase impossível de suportar.
- Há coisas que nunca mudam. Toca-me... - Voltas a dizer, convicto do que sabes.
O silêncio impera, juntamente com os meus gemidos e o som do vibrador...o som do deslizar, uma e outra vez, para dentro da minha cona.
- Toca-me.
- Não posso.
Dás um passo à frente e sinto o caralho tocar-me os lábios. Mantenho-me imóvel, concentrada no meu prazer, mas não ignorando o facto de estares nu à minha frente com o caralho a começar a roçar a minha boca. Um toque lento e subtil, não permitido, mas que não travo, porque preciso. E aperto uma das minhas mamas enquanto um novo orgasmo me faz estremecer uma vez mais, mas não me faz parar. Os teus movimentos deixam de ser tão subtis e deslizas, sem medo o caralho, pelos meus lábios, molhando-os...salgando-os, até os meus gemidos me fazerem abrir ligeiramente a boca. Posicionas estrategicamente o teu caralho na entrada da minha boca e deixas que lentamente deslize para dentro dela. Não te travo, já não quero. Sei que conseguiria, mas preciso que continues. Nenhum dos dois diz uma palavra, porque se isso sucedesse, ambos recuaríamos...e naquele momento é do demónio que precisamos...o meu e o teu...numa luta que ambos conhecemos.
Moves-te lentamente para dentro da minha boca...deixando o caralho entrar e sair enquanto eu me masturbo até me vir de novo, molhando o vibrador todo.
Atiro o vibrador para o lado e permito-me sentir...sentir-te...sentires-me...
E esporras-te dentro da minha boca, deixando algum esperma escorrer por mim. Engulo o esperma e afasto-te de mim, mas desta vez contrarias-me e ajoelhas-te em frente a mim e lambes, primeiro a minha cona. Tento fechar as pernas, mas a tua força não me deixa. Sobes por mim, lambendo as gotas de esperma que deixei cair e ficas a olhar para mim, um pouco antes de me beijares e saboreares comigo o resultado do teu prazer misturado com o meu.
Cedo...cedo-te...cedes-me...
- Posso? - Perguntas e não faço a menor ideia do que me queres perguntar.
- Não. - Mantenho-me, mas é o teu caralho que sinto duro, roçar na minha cona...quando me seguras nas pernas e as entrelaças ao teu redor.
- Posso?
- Não.
E começas a foder-me, sem me partir, mas entrando em mim sem piedade...consumindo de novo o meu corpo e a minha alma. O teu olhar muda e o meu acompanha-o. A cor dos teus olhos escurece e a tua expressão fica mais carregada, pesada...e vejo os teus demónios, sem medo deles O meu olhar ganha profundidade e perversidade...e o meu corpo vai cedendo ao prazer que conhece e reconhece contigo. Venho-me...e faço-te perder em mim, comigo e eu vou junto, mas sem me dar e já liberta das amarras que tinha...
Vens-te pouco depois, desta vez esporrando-me a cona e o ventre...
Baixas-te sobre mim e lambes-me a cona, tocando-me...provocando-me de novo...obrigando o meu corpo a ceder a um novo orgasmo. Sal e esperma escorrem pelas minhas pernas, numa clara evidência do prazer que tive...tiveste...tivemos.
- Posso? - Perguntas e continuo sem saber a que te referes.
- Não. Agora vou tomar banho. Se quiseres podes ir, estás dispensado. - Digo friamente de forma sentida.
- Também preciso de um banho.
Dou por mim num canto da banheira cheia de água e espuma e contigo do outro lado...sentindo o quente da água acalmar os corpos, que aguentam a mesma temperatura. Fecho os olhos e deixo que o crepitar das velas que acendi e nos iluminam, sejam a única melodia juntamente com a nossa respiração ainda ligeiramente ofegante.
Já bem relaxada saio da banheira e enxugo o corpo com uma das toalhas, enrolando-a no meu corpo. Ficas a olhar para mim, mas não tardas em sair da água e fazer o mesmo, mas entrelaçando a tua toalha na cintura.
Saio da casa de banho e procuro umas cuecas numa das gavetas e dirijo-me para a cama. Segues-me já sem a toalha no corpo e deitas-te ao meu lado.
- Posso? - Pergunto eu.
- Não. - Dizes e desato a rir, percebendo a loucura de tudo o que aconteceu.
E acordo sobressaltada naquele momento. Tivera outro sonho, semelhante a outros que havia tido nos últimos tempos, sempre com homens diferentes. Os sonhos eram cada vez mais frequentes e deixavam-me sempre assustada, mas estranhamente excitada. Só voltei a conseguir adormecer depois de me vir...e os olhos acabaram por se fechar sem dificuldade, afinal já estava bem mais calma e os sonhos não passavam disso mesmo...sonhos...a realidade, a minha realidade era outra coisa bem diferente.
FIM
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