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AMAR


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Olho pela janela do comboio, na esperança de ver em letras garrafais o nome da estação que escrevi num pequeno papel e que retiro da carteira, apenas para confirmar que ainda não cheguei.

- Está quase. – Digo a mim mesma.

- Para onde vai? – Ouço alguém perguntar, mas não presto atenção. Os meus olhos continuam focados no que vejo passar através da janela. Molho ligeiramente os lábios e afasto da frente do rosto uma mecha de cabelo mais clara. Olho para o meu relógio e vejo as mesmas horas que há minutos.

- Está quase. – Volto a repetir.

- Posso ajudar? – Ouço a mesma voz e o meu olhar desvia-se ligeiramente do exterior para o banco da frente. Sinto que desviar o meu olhar da paisagem, me vai distrair, me vai fazer perder o sentido do destino.

Sinto uma mão tocar na minha que treme, não pelo toque, mas porque a ansiedade é mais forte.

- Para onde vai? É a primeira vez que anda de comboio? – Perguntou-me e sorri. Eu devia estar mesmo a fazer uma figura parva. Como é que me deixei ver desta forma? Olho em volta e depois para ele, fixando os olhos escuros e depois os lábios. A roupa casual, o casaco de couro e as mãos, elegantes e bonitas.

Não lhe respondo. Simplesmente reclino-me no banco e continuo a olhar para ele. Silencio-o finalmente, mas o olhar dele fala comigo, diz-me coisas que eu não quero ouvir e isso faz-me levantar. Fico, simplesmente, de pé agarrada ao varão de metal. O comboio vai a um compasso certo e eu roço-me no varão à medida que o movimento me embala e deixo o meu olhar perder-se na paisagem de novo. Olho de novo o papel que guardei e o meu olhar volta-se para uma das paredes onde constam todos os nomes das estações.

Onde raio estava e porque é que não tinha chegado ainda? Porque confiei no homem da bilheteira e na mulher que estava na plataforma quando subi para o comboio?

E nesse momento uma paragem abrupta e seguro-me com mais força. Inesperadamente vejo-o perto de mim, segurando o mesmo varão que eu. Os meus olhos fecham-se quando cheiro o perfume dele e que reconheço e quase simultaneamente sinto o calor que emana do corpo dele. Abro os olhos e deparo-me com o olhar dele em mim, a percorrer o meu casaco comprido cinzento-claro e perde-se na abertura onde vislumbra uma blusa branca ligeiramente desapertada e uma minisaia em couro. O pendente que uso no colar chama a atenção dele e procuro-o com a mão que tenho livre, enquanto com a outra continuo a segurar no varão.

- Para onde vai? – Pergunta-me de novo.

- Para o inferno, quer vir? – Pergunto, respondendo com um ar de quem está longe dali.

- Se me levares contigo, vou. – Disse e a súbita mudança do você para tu, gela-me.

- Tu não sabes… - Engasguei-me na minha própria voz e olhei para trás, tentando dissimular as lágrimas que queriam brotar dos meus olhos e que impedi a custo que sucedesse.

- Para onde vais? – Voltou a perguntar, colocando a mão por cima da minha, acariciando os meus dedos, sem pressa, como se me quisesse tranquilizar.

- Vou para longe, nem que quisesse não conseguiria dizer. Tenho o nome da estação escrito num pequeno papel. – Digo, finalmente àquele estranho.

- Podes mostrar-me? – Perguntou ele. E preparo-me para retirar o papel da carteira quando o vejo olhar através do decote que a minha blusa revela. E demoro a ir buscar o papel, ciente que gosto que ele olhe.

- Branco e rendado. – Ele diz quase num sussurro, mas que eu ouvi, embora fingisse não ter ouvido.

E pouco depois estendo-lhe o papel e ele desvia o olhar do decote até aos meus olhos, não disfarçando o facto de ter sido surpreendido por mim. Trinco o lábio e franzo o sobrolho, aguardando que ele leia o nome que estava escrito.

- Saio nesta estação. – Disse-me e sorrio com a coincidência. – Afinal vamos para o mesmo inferno. – Diz ele, devolvendo um sorriso perverso.

Nova travagem e seguro-me de novo no varão. Ele ampara-me com o corpo dele, colocando uma das mãos nas minhas ancas, por dentro do casaco. Nada digo, finjo não me aperceber o toque dele. Certamente ele iria perceber que o facto de estar um pouco desorientada me desculparia pela indiferença ao toque dele. O mesmo toque que imprimiu nos dedos, começou a desenhar nas minhas ancas. E começo a ceder, ao toque e a ele.

Novo solavanco, mas um pouco mais violento. E dou por mim já encostada ao corpo dele.

- Desculpa, não estava a contar. – E preparava-me para me afastar quando ele me prende ao corpo dele.

- Não te afastes agora. – Pediu-me.

- Porquê? – Pergunto simplesmente.

- Porque estou…estou com uma valente ereção e nota-se.

- Que chatice! Fui eu que provoquei isto? – E roço-me discretamente no corpo dele, como se o conhecesse há uma eternidade.

- Não. Que ideia a tua! Talvez tenha sido a idosa que está atrás de ti. – Disse-me e ri-me como já não o fazia há algum tempo.

- Mas, diz-me. O que te excitou? – Perguntei, sem medo, ciente do que poderia ouvir, mas sabendo que era o que precisava ouvir.

Nova travagem do comboio e a luz fica intermitente e durante uns breves instantes falha ligeiramente. A mão dele continua em mim, tal como o olhar, que fixa o meu.

- Desaperta mais um botão. – Pede, num sussurro.

- Afinal também vais para o inferno. – Digo eu acatando o pedido dele, sem qualquer reserva.

O rendado do soutien sobressai na camisa branca e vejo o olhar perdido no que o soutien revela. O meu corpo reage ao olhar alheio e sinto os mamilos endurecerem com a excitação que isso me provoca.

- E agora? – Pergunto, tentando deixá-lo sem resposta.

E a luz intermitente regressou, mas nenhum dos dois se moveu, permanecendo na mesma posição. A mão dele sobe por mim de tão subtil que o casaco consegue ocultar sem dificuldade e depois contorna o meu corpo, tocando o meu ventre. Imagino o movimento seguinte e fito o olhar dele, que me devolve, não travando o compasso de cada dedo e que incendeia a minha pele, através do fino tecido da camisa. Passo a língua pelos lábios e aguardo, não estando sequer preocupada com a respiração mais acelerada que exibo.

Naquele momento a tentação de olhar para as calças dele é grande, mas não o faço, pois esse movimento ia obrigar-me a afastar dele e facilmente se iria perceber o estado em que estava e ainda mais com a camisa semiaberta.

O comboio trava da mesma forma abrupta e sou impelida contra ele, de novo, e sinto-o…sinto o caralho dele duro através do tecido das calças. Roço-me subtilmente e ao mesmo tempo sinto a mão dele deslizar pelo tecido da minha camisa, até se intrometer dentro dela e confrontar-se com o rendado do soutien, que esconde a pele, o mamilo saliente que toca e depois belisca.

- Hmmm – Um gemido difícil de conter e que contrabalança com o toque do meu corpo no dele.

- A estação em que saímos é a seguir. – Diz-me ele.

- Já? – Pergunto eu, não sabendo se quero continuar a viagem de comboio ou se quero continuar com ele.

A mão dele continua a tocar numa das minhas mamas e, nesse momento, encosto-me ao varão do comboio, de forma a que o meu toque passe despercebido. Encosto a cabeça ao ombro dele e levo a outra mão às calças, tocando-o e sentindo a dureza do caralho dele.

- Fodasss. – Ouço-o vociferar entre dentes.

E o comboio vai desacelerando, mas a travagem abrupta junta-nos ainda mais e ele acaba por me agarrar.

- Vamos my lady? – Perguntou em modo cortês.

- Sim. - As palavras dele ressoaram na minha mente de forma familiar, como se nunca de lá tivessem saído, como nunca deixasse de ser ditas. E saímos do comboio, ignorando por completo a forma desleixada como estávamos.

E já cá fora, entreolhámo-nos cumplicemente quando lemos a placa que estava à nossa frente.

Amar…Amarante.

E a nossa viagem recomeçou.


FIM

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