DESTINO(S)
- Eva Ribeiro
- 9 de jan. de 2021
- 6 min de leitura

Abri os olhos e olhei em redor. Não fazia a menor ideia de como ali tinha ido parar. Olhei em volta e não consegui perceber onde estava. Apenas me sentia presa a um pau de madeira, algemada pelas mãos e pelos pés, no meio de um espaço amplo e que se assemelhava a uma garagem. A luz entrava por algumas janelas que se estendiam ao correr da sala e aquela que estava perto de mim tinha os vidros partidos. Um espaço decadente e que me fez olhar para mim e reparar que tinha sobre o corpo nu apenas uma t-shirt clara, comprida e meia rasgada e estava descalça, com os pés sobre o chão em cimento e presos um ao outro por uma corrente.
- Está aí alguém? – Perguntei, tentando que a minha voz chegasse a todos os cantos do espaço onde me encontrava. mas o silêncio era dominante. Voltei a perguntar, desta vez mais alto e ouço, finalmente um barulho vindo do que me parece ser uma porta ao fundo. Um vulto de um homem com capuz aproxima-se e fico em tensão, sem saber quem é, o que está ali a fazer e eu, como fui ali parar.
- Já acordaste? – Perguntou-me uma voz que acabo por reconhecer, mas já não ouvia há muito tempo. E quando tira o capuz, reconheço-o e rapidamente tento soltar-me, não por medo, mas por sentir uma fúria imensa.
- Calma…só quero conversar. – Diz-me serenamente, com o ar impenetrável que conheço.
Fico em silêncio, não me permitirei articular qualquer palavra que seja.
- Solta-me. – Peço, numa exigência mais que denunciada.
- Desculpa, mas ainda não posso fazer isso. – Diz-me ele e aproxima-se de mim. Fecho os olhos e respiro o perfume que tão bem conheço e começa a tocar-me nos lábios com um dos dedos, descendo por um dos ombros, ligeiramente descoberto por um rasgão da t-shirt e contornando o meu braço, e depois, por cima do tecido, toca numa das minhas mamas, demorando-se no mamilo e passando à outra. Não digo nada, mas tendo afastar-me, mas em vão, pois ele continua a tocar-me, desenhando e redesenhando o meu corpo como se estivesse a fazer um reconhecimento de algo que já fora dele e deixou de ser. Afasto a cara para o lado, como que para evidenciar desagrado e também desapego por aquele excessiva proximidade e ele imediatamente trava os desenhos que tinha começado no meu corpo e obriga-me a fitá-lo, segurando o meu queixo na sua direção. Fecho os olhos, não lhe quero o dar o prazer de ver através deles, não de novo.
- Olha para mim fodasss. É assim tão difícil? Sou assim tão desprezível? - Perguntas que ficaram no ar e o deixaram ainda mais descontrolado. Sinto-o afastar-se ligeiramente e nesse momento, abro os olhos, mas baixo-os, continuando a impedir que me leia. - É assim que vai ser? - Pergunta retoricamente, dando-se quase por vencido.
E nesse momento, retoma o desenho que iniciara no meu corpo, mas desta vez no meu ventre. Fico arrepiada e tento esticar as mãos que tenho presas atrás das costas.
- Não vale a pena tentares, prendi-te demasiado bem quando te trouxe. - Confessou-me.
Um silêncio voltara a instalar-se entre nós e ele prosseguiu, continuando a tocar-me no meu ventre, em sentindo descendente, já quase alcando o tecido das minhas cuecas.
- Vi-te onde tantas vezes nos encontramos e tentei falar contigo, mas continuaste a caminhar e depois percebi que ias ligar para um amigo, namorado, um homem e nesse momento e aproveitando que estava escuro, consegui deter-te de o fazeres quando te prendi as mãos. Não foi fácil silenciar-te...e fui forçado a colocar-te inconsciente, para te conseguir meter no meu carro e trazer-te até aqui. Era a única forma de me ouvires, de falarmos, de estar perto e de não me fugires. - E nesse momento voltou a pegar no meu queixo e ergueu-o, tentando que o olhasse e sim, faço-o, mas cuspo-lhe o rosto e depois volto a baixar o olhar. - Não perdeste o teu carisma...e fodasss...é por isso que continuo ligado a ti.
Ignorei aquelas palavras que jamais compensariam os estragos feitos, o tempo perdido, os sonhos desfeitos...
E a mão dele ultrapassa o limite onde as cuecas começam e continua a deslizar por mim. Tento controlar um gemido, mas não consigo e ele percebe.
- Não te dás de uma forma, o teu corpo vai responder por ti a todas as perguntas que te quero fazer. - Disse e lentamente foi baixando as cuecas, à medida que o toque dele, me percorria, a pequena linha de pelos antes de chegar aos lábios da cona, mas que não tocou logo. - Diz-me, sentiste saudades minhas? - E nesse momento um dos seus dedos toca os meus lábios e ele dá-me a resposta que o meu corpo já lhe deu. - Estou a ver que sim. Estás toda molhada, puta. - E em movimentos suaves começa a masturbar-me, tocando ao de leve o meu clitóris...para depois exercer uma maior pressão e que intercalava com o movimento dos dedos nos meus lábios. Percebo que desce sobre mim e me levanta a t-shirt, contemplando as minhas mamas. - Lembras-te de como pedias para te foder? - Perguntou e instantaneamente os meus mamilos endureceram sem sequer serem tocados por ele. - Vejo que te lembras...o teu corpo deu-me a resposta. - E ao perguntar isto aproxima-se mais de mim e começa a lamber-me um dos mamilos, mordicando-o, fazendo-me sentir alguma dor e a qual não lhe dei sequer o prazer de me ver reagir. E ao mesmo tempo um dos dedos dele entrou dentro da minha cona. - Se fosse um desconhecido, ou aquele amigo a quem ias ligar, ficavas assim neste estado puta? - Perguntou num misto de excitação e fúria, que eu tão bem conhecia.
E nesse momento olhei para ele e ele teve a resposta com que contava...um sim...e que o fez do nada dar-me um estalo.
- Deixas-me louco...fora de mim...porquê? - Perguntou, já vencido.
E nesse momento não consegui ficar calada.
- Porque quero, porque sei e porque posso...e tu, continuas assim com tanto medo de mim para me manteres presa, como se fosse a única forma que tens de te fazer ouvir, cabrão? - E nesse momento ele tentou domar a raiva e disse, tentando mostrar uma calma aparente.
- Vou soltar-te, mas se tentas sair daqui ou fugir-me, vou prender-te de novo e sabes que consigo fazê-lo, por isso tenta não dificultar mais as coisas. - Disse e colocando-se atrás de mim libertou-me as mãos que tinha presas nas algemas e ao pau de madeira. Fez o mesmo com a corrente que me prendia os pés e voltou para a minha frente, esperando alguma reação da minha parte, que não houve. - Não tens nada para me dizer?
Voltei a ficar em silêncio, dissimulando um falso interesse pelo espaço envolvente.
- Se fodermos deixas-me ir embora? - Perguntei tentando afundar mais o punhal invisível que estava bem afiado e apontado ao coração dele.
- Não te trouxe aqui para fodermos, mas para saber de ti...ter respostas...tu sabes isso...
Fico de novo em silêncio, um silêncio que é pela primeira vez incomodativo entre os dois.
- Mas eu quero foder... - Digo e viro-me ao contrário e inclino-me de costas para ele, empinando o rabo na direção dele.
Sei que ainda compliquei mais as coisas pois ele não teria efectivamente essa vontade e não tinha sido isso a movê-lo a levar-me até ali, mas comigo exposta e disposta desta forma, o instinto levou a melhor sobre ele. E o pau de madeira acabou por ser o meu amparo à medida que me ia fodendo...que o caralho que eu conhecia fosse entrando na minha cona...
- Era isto que querias puta? - Perguntou-me.
- Sim, apetece-me, fosses tu ou outro qualquer. - Menti e ainda o deixei mais furioso, pois apertou-me uma das mamas com força e depois o mamilo ainda mais, como que para me punir pela confissão. E começo a escorrer, pelas pernas abaixo, o prazer que sinto no impacto que provoco, de novo nele. E venho-me sem controlo possível...apertando-lhe o caralho ainda duro na minha cona...e que o faz vir-se quase instantaneamente. Sinto-o afastar-se lentamente, deixando-me a escorrer o esperma...
E diz o meu nome...ainda comigo de costas viradas para ele. Estremeço, mas não me viro. Não por não querer, mas por não poder...
- Agora que te vieste, consegues ouvir-me? - Pergunta-me em sinal de despespero e de novo devolvo-lhe o silêncio e pior de costas para ele. Procuro as minhas cuecas e a t-shirt.
- Onde está a minha roupa? - Pergunto, ignorando a pergunta dele.
- Está naquela divisão, despi-te antes de te prender aqui. - Respondeu-me, mas ficando ainda mais furioso por ter deixado de responder à pergunta que me tinha feito.
- Não percebi porque tiveste de me prender...o resultado da nossa conversa seria o mesmo. Provavelmente não fodíamos, mas não tardaria a isso acontecer com um amigo ou uma amiga minha.
- É isso que tu queres? Prosseguir sem mim? Viver sem mim? - Perguntou-me objectivamente.
Demorei algum tempo a responder talvez à pergunta mais difícil a que iria responder na minha vida, mas tinha de ser, seria matar ou morrer...e eu ia morrer, mas mataria primeiro.
- É isso que eu quero, tu não conseguiste fazer isso sem mim? Viver sem mim? Estar sem mim? - Perguntei e ele deu um passo atrás. O punhal tinha entrado... - Onde estão as minhas roupas? Quero ir embora, para sempre...e não vale a pena este tipo de jogos, porque posso ser mais fraca fisicamente, mas jamais conseguirás chegar lá...já estiveste lá, já fui tua, já foste meu...mas a vida continua e eu não preciso de ti, preciso de mim, e preciso da energia que tu acabaste de me dar quando me fodeste...o resto...o resto pode ficar escrito numa história como esta e aqui termina.
FIM
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