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ORIGINAL SIN

A pedido de vários(as) leitores(as)...fiz a compilação deste conto...


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Apesar de saber cozinhar razoavelmente, a minha amiga Paula resolveu inscrever-me num daqueles workshops de culinária e que raramente se conseguia lugar por ser dado por um prestigiado chef culinário.

- Cozinhar é muito mais do que apenas elaborar um prato e servir…é um acto de amor e que conjuga sabores, cheiros, tem o teu toque porque és tu que misturas os ingredientes, até o simples som do refugar que ouves é magia a acontecer….ah e o toque, aquele momento em que levas o dedo à colher com que misturas tudo… é uma experiência única e tu não podes perder. – Disse-me para que eu desse sequência à candidatura que já tinha sido aprovada.

- Vou, mas contrariada… - Disse-lhe num daqueles dias cinzentos em que tudo me parece negro.

- Acho que vais ter uma surpresa e não te disse, mas o chef é bem interessante. – Disse, na esperança que eu reagisse, mas nem isso surtiu qualquer efeito.

- Está bem… - Disse eu a olhar de forma vaga o que ia passando na televisão, sem ter nenhum interesse, nem por aquilo que habitualmente prendia a minha atenção.

- Por achar que precisas de coisas novas é que te inscrevi…precisas de um refresh na tua vida, um reinício de algo…para ver se sais desse torpor que até a mim me deprime.

- Vá…deixa-me. Tenho que estar amanhã a que horas na morada que me deste? – Perguntei.

- Às 10h00. Será a recepção dos candidatos e depois começará. – Disse-me a minha amiga.

- Estarei lá, mas juro que não voltarei a aceitar algo assim. Foi a última vez…e vou porque não tenho mais nada interessante para fazer. – Digo, como se a minha vida fosse recheada de aventura e movimento…

- Amanhã ligo-te para saber como correu. – E deu-me um beijo, já estava eu deitada no sofá preparada para ver qualquer coisa que estivesse a dar na televisão…ver sem ver…ver sem sentir. Apenas ver por ver…

Ela saiu, como se tivesse acabado de deitar uma criança na cama…e a verdade é que com quase 40 anos eu não precisava daquele paternalismo todo. Cobri-me com uma manta, apesar de ser verão, pois sentia o meu corpo frio…eu estava fria…e sei que pouco tempo depois os meus olhos cederam e eu adormeci.

Acordei a meio da noite desconfortável por estar no sofá e mudei-me para a minha cama, em modo sonâmbulo.

Acordei com o despertador e não demorou muito a estar na rua, com o meu Fiat 500, um clássico que tinha herdado do meu pai e que preservava com a vida. Cheguei à morada que a Paula me tinha dado e estacionei no parque do edifício. Olhei para o papel que me tinha dado quando entrei no elevador e não estava a perceber se era no 3 ou no 8º andar.

- Raios…parece um 3… - Falei sozinha, apesar de nesse momento ter entrado um homem que partilhou o elevador comigo.

- Para que andar vai? – Perguntou-me antes de carregar no botão.

Ergui o meu olhar…

E por momentos fiquei estarrecida com aquele moreno de olhos claros que tinha diante de mim.

- Não sei bem, a minha amiga escreveu-me a morada num papel. Consegue decifrar? É que eu não e não queria nada chegar atrasada. – Confessei-lhe.

- Parece-me um 8… - Disse ele vagamente… - Mas se me disser para onde vai talvez a possa ajudar. – Disse-me ele.

Ajeitei a minha t-shirt branca que contrastava com o meu tom de pele e terminava onde começavam as calças de ganga.

- Vou para um workshop de culinária…que a minha amiga me tentou vender ser uma experiência quase orgásmica…e não estou com disposição nenhuma. – Disse-lhe e ele muito prontamente me respondeu.

- Deve ser no 8º piso, é onde costumam decorrer essas coisas de que fala. – Disse ele. – Mas gosta de cozinhar? – Perguntou-me.

- Cozinho…mais por obrigação do que por gosto… - Confessei.

- Há quem defenda que cozinhar é uma experiência sensorial que ultrapassa o senso comum. – Disse de forma filosófica.

- Tem de conhecer a Paula, a minha amiga, diz o mesmo…vocês devem pertencer ao mesmo clube, mas eu olho para a culinária de forma básica e primária, talvez seja mesmo esse o termo. – Disse simplesmente.

- Quem sabe se não muda de ideias com o curso que vai fazer. – Diz ele.

- Duvido muito…já muito pouco me surpreende. – Digo e vejo-o sair no mesmo andar que eu. – Também vai sair aqui? – Perguntei quando o vi fazer o mesmo percurso.

- Vou dar uma aula. – Diz ele e vejo-o desaparecer pelo corredor, mas olhando para trás. – Foi um prazer conhecê-la…como se chama? – Perguntou ele.

- Eva. – Respondi.

- Prazer. – Disse sorrindo enquanto se afastava.

E procurei a sala que estava no pequeno papel e ia tão distraída que ia esbarrando com uma porta que entretanto se abriu. E por acaso até era a sala para onde tinha de ir. Entrei e mais umas quantas pessoas e, à vez, fomos preenchendo aqueles formulários que pretendem saber o que fazemos, o que gostamos, porque estamos ali. E eu só pensava em matar a minha amiga por me fazer perder tempo nestas tretas.

Entreguei o meu formulário e ocupei uma das bancadas que me foi destinada, pelo número que me foi atribuído. E não demorou muito a estarmos todos em cada bancada…na expectativa de ver alguém chegar…

E as luzes apagam-se ligeiramente…e ouve-se alguém ao fundo a recitar um poema que nunca tinha ouvido…mas que retive…


Feito de cores, Feito de cheiros, Cheiro a salsa, manjericão, canela e açafrão. Feito de sonhos, de memórias , de sabores…

Assim se faz um prato… um pouco de imaginação, uma pitada de alegria, uma dose de amor.

assim se faz um prato… tomate, cebola, pimentão, os aromas a bolos quentes a pairar pelo ar.. o forte cheiro das ervas aromáticas espalhado pela cozinha perfumando todo o ar

Assim se faz um prato… mais um pouco de açúcar, uma pitada de canela e o som das gargalhadas em volta de uma mesa ora cheia…ora vazia..

Em cada cozinha existe poesia… no barulho dos tachos e das panelas, nos aromas que se espalham pelo ar, no cheiro a pão quente, nas cores que pairam numa salada ou no gosto inigualável de uma refeição confeccionada com as nossas mãos.

Mais um pouco de alecrim por favor e uma pitada de sal não ficava nada mal! Prova-se o gosto verificam-se os temperos, fazem-se poemas com ingredientes, agora uma batata, ora uma cenoura, junta-se coentros, um fio de azeite, depois o tomate, o lume acende-se e a magia acontece… cada alimento transforma-se, fundem-se sabores, do nada, cria-se o tudo!

Assim se faz um prato como se fosse um poema no qual as palavras se alinham sílaba a sílaba até formar um todo perfeito!


E foi ao som destas palavras que a aula começou…

- Bom dia a todos o meu nome é Daniel Pietro e sou o chef que irá estar durante os próximos dias com vocês.

E naquele momento tive de me segurar à bancada para não cair, pois o chef tinha sido o homem que me acompanhara no elevador até ao 8º ano e me viu vociferar pela escolha daquele workshop. Só me apetecia fugir dali.

- Para quem não me conhece, sou chef de um restaurante de renome na cidade há já alguns anos e do qual sou também proprietário. Mas a minha vida na cozinha não começou de forma simples, aliás posso dizer-vos que as primeiras experiências foram mesmo catastróficas e se alguém me dissesse, nesses tempos, que um dia me tornaria chef, acho que acharia que me contavam uma anedota. Foi o tempo que me fez de viagem em viagem, de casa em casa, de mulher em mulher, descobrir os prazeres…da culinária e que não se resumem a misturar tudo na mesma panela…é muito mais que isso, é um acto de amor. E foi assim, por caminhos mais ou menos sinuosos, que fui percorrendo na minha vida, que comecei a vibrar com os cheiros, os sabores, o toque…a cor…e no prazer que dava a quem servia o que cozinhava. E o meu prazer estendeu-se a outros…a vontade de partilhar o meu prazer…e que pretendo fazê-lo, fez com que trabalhar atrás de um fogão de restaurante em restaurante me mostrasse que eu aspirava algo maior que eu. Achava eu que era um sonho…hoje é a minha realidade. Mas quero conhecer-vos…falem-me do que vos levou a inscreverem-se. E não quero saber daquelas tretas que escreveram naquelas folhas, falem-me de amor…porque eu ensino com amor e quero que aprendam com amor.

E lentamente um a um, cada um dos presentes foi falando de si e das suas motivações, aspirações e expectativas, e ele ia fazendo algumas considerações simples…e chegou a minha vez.

- Olá a todos…sou a Eva e honestamente nem sei bem como começar. – Digo baixando o olhar.

- Pelo início…pelo amor… - Diz ele e vai caminhando na minha direcção.

Ainda mais aflita fiquei por ver este homem falar de amor, misturar ingredientes, quase me fazendo sentir o cheiro da comida acabada de fazer…e fazendo-me até olhar para ele com desejo de provar algo….diferente.

- Ora bem…. – E deixei-me levar pelo momento e disse o que sentia. - Eva…o meu nome invoca pecado, tentação e criação…e quero também estender outro ingrediente: a criatividade, que sempre foi uma característica minha, mas está um pouco apagada nos últimos tempos é certo, à cozinha…e a vontade que tenho é que a maçã que ofereço, desde os primórdios do tempo não seja uma simples maçã, mas seja a maçã que levou o Adão a perder-se por aquela dentada. Gostava de sair daqui a cozinhar, mas não cozinhar só por cozinhar, quero fazer do que cozinho um pecado…e para mim amor e pecado andam sempre de mãos dadas, por isso… - E terminei.

- Gostei do que ouvi…amor e pecado é a primeira vez, mas parece-me promissor.

Senti-me ruborizar e entretanto as restantes pessoas fizeram a sua apresentação e ele ficara parado na minha mesa, a meio da sala a ouvi-las.

- Hoje não será uma aula prática, era mais uma aula para eu vos conhecer um pouco melhor, pois iremos passar algum tempo aqui e é importante a nossa ligação funcionar. – E nesse momento olhou para mim e desviei o olhar para o meu telefone que vibrava incessantemente. – Por hoje estão dispensados. – E mal o ouvi dizer isto, preparei-me para sair, mas teria que passar por ele.

- Eva…

- Sim, chef…

- Temos uma grande lição em mãos. – Disse ele, travando o meu avanço em direção à porta.

- Temos? – Perguntei, retoricamente.

- Vou ensinar-te o que sei…mas, a paixão com que hoje te ouvi falar hoje não se vai perder…e vais pecar…e vais amar…

- A cozinhar…. – Termino a frase dele.

- Também….- Disse ele e foi até à sua mesa e eu aproveitei para passar e sair.

E saio dali a fugir, nem sei bem de quê…mas a fugir…talvez de mim própria…


Saí dali, apressada, só parando no meu Fiat 500, completamente a arfar e vi as quase 1000 chamadas não atendidas que a Paula me tinha feito. Mas eu recusava-me terminantemente a falar com ela naquele momento, pois sei que me notaria alterada e era a última coisa que eu pretendia. Entrei no carro e rumei a casa...precisava de um lugar seguro e tranquilo, mas o telefone não parava de tocar e eu não podia continuar a ignorar as chamadas dela.

- Estou a conduzir, por isso se me ouvires mal ou algo parecer estranho é por causa disso. - Justifiquei-me por antecipação.

- Conta como foi? Gostaste? - Perguntou-me.

E tentei descrever a coisa mais enfadonha possível de forma a passar despercebida.

- Sim, mas praticamente só ficamos a conhecer-nos todos...e contamos aquelas coisas todas que é normal falar numa primeira aula. Porque estão aqui? Motivações? Etc....

- E? - Queria saber mais, merda.

- E amanhã parece que vou de novo. Quantas horas são mesmo?

- Julgo que 60h...15h por semana. - Disse ela por fim.

- Bem estou a chegar a casa e preciso de um banho. Falamos depois. - E felizmente o telefonema terminou e não deu aso a grandes dúvidas.

E o dia passou a correr e eu não conseguia deixar de pensar nele...no chefe que começou por ser um mero estranho no elevador e que me ouviu dizer as maiores barbaridades da aula que ele ia dar.

E adormeci ciente que no dia seguinte, me aguardava uma nova aula, contava eu que fosse mais prática para que a não houvesse tanta proximidade e troca de ideias como tinha acontecido na primeira aula.

Cheguei quase em cima da hora e ia a entrar no elevador do prédio quando ele volta a entrar. Não o olho logo, mas reconheço-o pelo perfume. Encosto-me ao espelho e sinto o contraste do frio do espelho sobre as minhas costas nuas. Escolhera um top de alças que apertava no pescoço e as mesmas jeans…e as sandálias vermelhas, da mesma cor do top…uma pequena pasta com caderno para anotações e estojo e uma pequena carteira azul e vermelha.

- Qual o andar? – Perguntou ele a sorrir quando encontra o meu olhar.

- Porque não me disse logo quem era e evitava que fizesse aquela figura parva? – Perguntei simulando um amuo não sentido.

- Porque de outra forma não ficaria a saber a verdade, Eva. – Confessou ele e quando diz o meu nome estremeço.

- Está com frio? – Perguntou-me ele reparando nos mamilos que se notavam pelo top acetinado que escolhera.

- Não. – E olhei para o top e percebi que os mamilos sobressaiam por baixo do top, endurecidos pela excitação que subitamente estava sentir. E instintivamente virei-me de costas e sinto que o elevador pára. – Que aconteceu? – Perguntei, virando-me para a porta.

- Parei o elevador…se se sente desconfortável como está não faz sentido sairmos assim. – Diz e por momentos aquele gesto nobre, faz-me sentir especial.

- Não sei se… - E não consegui terminar a frase.

- Se quer voltar a não reagir a mim? – Perguntou-me diretamente.

- Como se atreve? Nem me conhece de lado nenhum para fazer insinuações dessas. A verdade é que está mais frio aqui dentro e sou muito sensível a diferenças de temperatura. – Menti, estando quase a ponto de querer partir o espelho atrás de mim, de tão furiosa que estava por aquele comentário. E carreguei no botão. – Não tenho qualquer problema em que reparem nos meus mamilos por detrás do top que trago, sempre dei nas vistas por os exibir de forma perfeita…não seria agora que sentir pudor por isso suceder. – Disse de forma convicta.

E tínhamos chegado ao 8º andar e saí primeiro sem olhar para trás, percebendo claramente que o chefe me olhava enquanto caminhava e parei, de propósito e olhei para trás…e ele olhava-me, tal como eu previa.

- A aula hoje vai ser de quê? – Perguntei apanhando-o a olhar-me…perdido.

- Vamos fazer uma introdução à culinária, mas focar-nos nos molhos… - Disse, sendo agora ele a ficar atrapalhado.

- Não é crime lamber se o molho for bom? – Perguntei…

- Crime é não saborear…não sentir…e quase me arrisco a dizer: partilhar também. – Diz ele filosoficamente.

- Vou chamá-lo para me lamber um dos dedos quando fizer um dos molhos…aceita? – Perguntei de forma indecente.

- Aceito…assim como o Adão aceitou dar um simples dentada na maçã. – E alcançou-me, dando comigo entrada na sala, mas cada um seguindo o seu curso. Ele para a bancada de frente para as restantes e eu para a que tinha ocupado no dia anterior.

- Bom dia a todos e a todas. Hoje vamos começar por algo que, apesar de básico na cozinha, é o que lhe dá o toque de genialidade…os molhos. – Começou. – Os molhos são considerados uma das melhores provas de talento de um profissional e, por vezes, até podem ser a solução de última hora para remediar um prato. É sobretudo a percepção das nuances das combinações dos sabores com os alimentos que distinguem um profissional de um amador.

E a primeira pergunta que me assiste perguntar-vos é a mais elementar, mas necessária para a próxima fase. O que é um molho? – Perguntou ele a todos.

Eu optei pelo silêncio, aquela mistura de combinações e sabores estava a deixar-me fascinada. E, de alguma forma, todos dando os contributos certos para a resposta que ele pretendia.

- Do que fui percebendo todos vocês tem a mesma noção do que é o molho, mas vamos a algo mais técnico…e histórico também. – E atrás dele surge uma tela que vai descendo e ele começa a falar do mais básico….

- A definição de molho…tão somente o líquido que adiciona sabor, humidade, dá aparência e ajusta o sabor e a textura dos pratos que preparamos. Pode ser quente, frio, doce, salgado, liso ou com pedaços. A etimologia da palavra molho, alguém sabe dizer-me qual é? – Perguntou e eu contorci-me, no banco, pois sabia a resposta.

- Sim, Eva. Quer partilhar algo connosco? – Perguntou ele, percebendo que eu queria falar.

- Sim, por acaso sei…sei que a palavra molho deriva do latim salsus que significa salgado e advém da necessidade de salgar, temperar um alimento de forma homogénea. – Disse e o meu olhar continuou fixo nele.

- Corretíssimo. Mas com o tempo o molho passou apenas a humedecer a complementar as preparações, chegando mesmo a ser mais importante que o próprio alimento, daí a importância da aula de hoje. E depois continuou a falar dos aspectos mais importantes a considerar para um bom molho: sabor, riqueza (a quantidade de proteínas e sal que pode ter), humidade e especto, passando depois a questões mais técnicas de alguns pontos prévios para conceber um bom molho: equipamentos, espessantes, recipientes, temperos…e depois de alguma base histórica que foi desde o clássico Antoine Carême, o grande responsável pela criação da classificação dos molhos até aos contemporâneos, falamos dos molhos base, aqueles a partir dos quais todo se elaboram, atendendo aos ingredientes que se adicionam.

-Alguém me sabe dizer pelo menos um molho base na cozinha? – Perguntou para a classe.

- Sim, provavelmente o bechamel será um desses molhos. – Disse alguém atrás de mim.

- Muito bem, mais alguém sabe de outro? – Mas a pergunta deu lugar a um silêncio e um novo slide foi exibido e o chefe foi percorrendo a sala até parar de novo na minha bancada e começar a detalhar cada um dos molhos base. E entre o holandês, o bechamel e o espanhol…fui tomando notas, ignorando a presença dele ali.

Depois desta pequena explicação teórica, distribuiu aleatoriamente pelas mesas uma folha que descriminava um molho…

- Vou querer que o elaborem, com os ingredientes que se encontram nestas prateleiras. – Disse apontando para as prateleiras de um e de outro lado da sala.

E de mesa em mesa, ele foi percebendo a facilidade ou dificuldade de cada um e ajustando o que considerava ser necessário corrigir. Quando chegou a mim…

- Molho bechamel…Eva…à base de leite…para mim… - As minhas faces ruborizaram de imediato, mas não cedi logo, apesar de o meu corpo me denunciar…

- Textura cremosa e sabor suave….tem um sabor neutro. A base é leite, leva farinha, noz moscada, sal e pimenta q.b….e no fim deve ter uma coloração semelhante à que preparei…brilhante e ligeiramente marfim. – Disse eu, tentando mostrar que tinha aprendido bem a lição.

- Já provou? – Perguntou-me ele.

- Não. – Respondi prontamente.

- Então como sabe que está bom? – Perguntou-me.

- Coloquei todos os ingredientes…e tem o aspecto que o bechamel tem. – Respondi assim apenas para não dar parte fraca, mas sabendo que deveria ter provado.

- Vamos provar… - Disse ele aproximando-se de mim.

- Como? – Perguntei.

- Levante a colher e passe o dedo e lamba. – E fiz o que me pediu e todo o meu corpo estremeceu…estava delicioso. – Hmmm…gosto.

- Vou comprovar. – E repetiu o gesto, mas foi no meu dedo que pegou e levou-o à boca para lamber depois de se certificar que todos estavam compenetrados em terminar o ponto dos molhos. – De facto está delicioso….sabe a leite…sabe…bem…

- Enquanto os meus colegas terminam posso ir à casa de banho? – Pergunto, tentando quebrar aquele ambiente que me está a deixar tensa e excitada.

- Sim…claro. – E nesse momento saí da sala e dirigi-me à casa de banho que ficava mesmo em frente da sala e quando me olhei ao espelho da casa de banho feminina, vi no reflexo do espelho a imagem dele.

- Porque me seguiu até aqui? – Perguntei furiosa.

E preparava-me para passar por ele para ir até à casa de banho quando ele me travou e pegou num dos meus dedos e o levou à boca e voltou a lamber…demoradamente.

- A tua pele tem a textura e o sabor certo para combinarem na perfeição com os molhos. Posso experimentar os molhos no teu corpo depois da aula? – Perguntou-me.

Ia negar e pregar-lhe um estalo, mas pensei duas vezes e apenas tive coragem de lhe dizer…

- Terá de escolher bem…não sei se qualquer molho combina comigo…

- Eu avaliarei…

E dizendo isto deixou-me na casa de banho e pouco depois regressei à aula e todos tínhamos ficado a perceber tudo o que era preciso sobre molhos e como os elaborar e conjugar com os pratos.

- Hoje ficamos por aqui, até daqui a dois dias. – Disse, precisamente por a última aula da semana ser apenas dois dias depois.

Fiquei propositadamente para trás, tentando nem ser rápida ou lenta demais.

- Eva, preciso de falar consigo. Não se vá embora. – Diz ele para mim, ainda com alguns presentes na sala, de forma a travar qualquer tentativa de eu fugir.

- Sim chefe, já irei ao seu encontro. – E quase parecia uma submissa a falar para o seu dominador. E não seria de facto assim?


Aproximei-me dele quando já todos tinham abandonado a sala. Ele estava compenetro a guardar alguns papéis soltos sobre a secretária, até a minha mão bater com força na mesa e o parar. Assustei-o…e olhou-me quando sentiu o efeito do meu impacto.

- Queria falar comigo chefe? – Perguntei, sabendo a conversa que ele queria ter comigo.

- Um bom chefe sabe apreciar, saborear e tem a humildade de achar que pode sempre melhorar…refinar…

- Tanta teoria… - Disse eu, rindo sem disfarçar…

- Vamos à prática…todos os molhos merecem e devem ser provados…porque completam os sabores do prato…a aliança perfeita. Sabes o que é uma aliança? – Perguntou-me.

- Sei… - E a minha expressão mudou.

- Diz-me…

- A ligação eterna…a ligação que faz sentido…transcende o material e passa ao metafísico.

- É precisamente essa aliança que necessitamos de ter na cozinha…a ligação…eterna…

- Não acredito nessas coisas, já não. – Digo e quase me preparo para sair dali, mas ele agarra-me a mão e diz-me.

- Esta aliança é forjada com amor, tem o dom do sabor e prende pela cor…textura…

E naquele momento aquela conversa não surtia qualquer efeito e quando me preparava para ir embora, deitei-me numa das bancadas de um dos meus colegas e pedi:

- Molhos? Quero provar….

- Isso é um pedido? – Perguntou ele aproximando-se de mim com uma pequena taça com um molho.

- Eu nunca peço…exijo… - Disse e deixou-o colocar um pouco daquele molho num dos meus dedos dos pés…

- Este ficou perfeito…na tua pele… - Disse ele gulosamente levando o dedo à boca e lambendo como se se tratasse de um pedaço de mim.

- Deixa-me provar.

- As provas não funcionam assim Eva. – Disse ele, de forma muito controlada.

- Não? – Perguntei retoricamente, mas estando à espera de uma continuação.

- Para sabermos se um molho está naquele ponto…devemos experimentá-lo…de diversas formas…

- Alguma ideia chefe? - Perguntei provocadoramente.

- Sim…sobe o teu top e deixa-me provar diretamente no teu corpo…e deixo-te provar a seguir….

Nem hesitei e subi de imediato o meu top vermelho acetinado e deixei-o colocar umas gotas do molho…lentamente…para depois as lamber diretamente em mim…primeiro no ventre…depois numa das mamas, até ser o mamilo que lambeu o molho, deixando-me completamente descontrolada.

- Qual era o molho? Quero provar…. – Digo eu.

- Espanhol… - E deu-me a provar diretamente de um dos seus dedos…

- Quero mais…

E despejou umas gotas mais sobre as minhas mamas e começou a lambê-las e depois aproximou-se dos meus lábios…e beijou-me demoradamente.

- O molho espanhol Eva, está aprovado?

- Quero o bechamel… - Disse eu, sabendo que ele me ia entender perfeitamente.

- Alguma preferência…da combinação para este molho? – Perguntou ele.

- Como não estou a ser avaliada…quero-o a escorrer do meu ventre até à cona…para o lamberes e me dares a provar. Excessivo?

- Não, perfeito…. – Disse ele indo buscar o molho, mas desta vez começando por me tirar as calças…depois as dele…e enquanto tirava os boxers de cor escura…não o deixo baixar-me as cuecas…

- Por cima…e depois…. – Exigi….sem esperar um não como resposta.

- E ele deitou algumas gotas de bechamel por cima das minhas cuecas brancas e lambeu…sorveu tudo e deu-me a provar de seguida.

- Ainda não está no ponto… - Digo sorrindo…

- Não…falta o mais importante. – Disse ele afastando as minhas cuecas e derramando um pouco mais do molho, que lambeu até à ultima gota….fazendo-me vir…

- Quero provar….o molho… - Digo eu a arfar…

- Vou ter de repetir, porque o lambi todo na tua cona. – Disse ele.

- Por favor…

E nesse momento ergo-me e vejo-o repetir o gesto e voltar a deitar algumas gotas e lamber-me com desejo, subindo por mim até chegar aos meus lábios e me dizer:

- A melhor versão de bechamel que eu provei até hoje.

- Em quantos corpos provaste já? – Perguntei sem qualquer problema.

- No teu…isso basta para ter o dístico? – Perguntou-me.

- Isso é tudo…

- Não, não é falta o molho holandês…livre, solto e revolto…

- Temos aula daqui a dois dias certo? – Perguntei, preparando-me para sair.

- Sim…. – Disse ele já antevendo o que eu ia fazer.

- Temos tempo para a sobremesa nessa altura…. – Digo, vestindo-me e afastando-me dele.

- Lembra-te que há mais alunas…e o próximo capítulo serão as entradas…

Aproximei-me já recomposta e olhei-o.

- Eu nunca serei uma entrada, sou o prato completo…refinar…e melhorar…lembro-me das suas palavras…

- E tu julgas que eu não sei?

- Então se sabe, até daqui a dois dias. – Disse, deixando-o para trás, semi-despido e entre molhos…misturados com o meu sabor.


Dois dias depois e felizmente tendo apenas tomado um café rápido com a Paula, pois estava prestes a ir de férias, chegou o dia de ter nova aula. Contrariamente aos outros dias, escolhi um colorido vestido de verão...e que me dispensou de levar roupa interior, até às sandálias eram rasas. Peguei na pasta com o caderno de notas e na carteira e saí de casa, um pouco apressada, pois perdera algum tempo com estes pequenos detalhes.

Entrei no edifício e quase adivinhava que me ia cruzar de novo com ele, mas isso desta vez não sucedeu. Subi até ao 8º andar e dirigi-me à sala, onde pela voz percebi que ele já se encontrava, mas a falar com outra aluna, que debruçada sobre a bancada dele, a mostrar-lhe algo, era impossível que ele não visse as mamas dela. Cumprimentei todos e dirigi-me ao meu lugar, ignorando aquela visão e tirando o meu bloco de notas e a caneta...e aguardei pacificamente que a aula começasse.

Mas, entretanto sou surpreendida pelo toque do meu telefone e que rapidamente pego para atender pois a aula ainda não tinha começado.

- Olá Francisco. - E a conversa apesar de breve deu para se entender que tínhamos combinado encontrar-nos nessa mesma noite. - Até logo...beijo. - Despeço-me e pouco depois coloco o telefone em silêncio e não tardou muito a que a aula começasse.

- Muito bom dia a todos. Espero que estejam a gostar daquilo que temos aqui aprendido juntos. - Disse e nesse momento o olhar dele foi para mim e eu baixei o olhar e fingi anotar algo no meu caderno. - Hoje vamos aprender um pouco sobre o prelúdio de uma refeição: as entradas, ou como muitos de vocês também devem ter ouvido falar o couvert, o antepasto ou aperitivo. A gastronomia tem como principal função saciar a nossa fome, porém ela também pode ser vista como uma expressão cultural e até mesmo histórica, que revela muito sobre os costumes e o modo de viver dos diversos povos. Por isso, as suas criações e especificidades, com as entradas, ensinam-nos um pouco mais sobre outras culturas. Apesar de não ser consensual… - E continuou. – Diz-se que as entradas tiveram a sua origem na Itália medieval, e tinham como principal objetivo atrair o paladar das pessoas e acender a vontade de saborear o prato principal. As entradas, tal como antigamente, são, tendencialmente muito coloridas, bem apresentadas e servem para abrir o apetite dos que estão à mesa. – E continuou, passando alguns slides na tela atrás dele. – Costumam ser leves, saborosas e ideais para abrir o apetite e estender o tempo das refeições, pois como vocês sabem e é algo que acontece na nossa cultura, temos especial prazer em permanecer em redor de uma mesa durante algum tempo…a conversar, a saborear e o tempo vai passando.

E depois foi-nos mostrando aquilo que tradicionalmente se apresenta para entradas…desde as mais simples ás mais elaboradas…e disse o mais importante.

- Nenhuma entrada deve anular o prato principal…por isso devem ter em consideração que é no prato principal que se vão focar e tudo surgirá em volta disso. Terá de ser a combinação certa para haver uma harmonia à mesa. E tal como na aula anterior…vou deixar em cada bancada a receita de uma entrada simples, para que elaborem. Estarei por perto para vos ir apoiando. – Disse e começou a distribuir, de bancada em bancada em bancada as receitas. E o resto da aula foi a elaborar a entrada que me tinha calhado, até o ver aproximar-se de uns e de outros e acabar por também o fazer comigo.

- Como está a correr Eva? – Perguntou-me quando me viu de volta dos últimos retoques.

- Bem, obrigada. – Respondi, friamente.

- Falta-me provar…chefe - Digo falando mais baixo um pouco. E, nesse momento, ele aproximou-se mais de mim e quase num sussurro, perguntou-me:

- Hoje faremos a prova à hora do almoço, aceitas? – Perguntou-me e olhei para ele…lambendo um dedo, sem qualquer preocupação de o poder excitar.

- Hoje? – Sorri, tentando que ele pensasse que estava a hesitar por poder ter planos. – Vim sem roupa interior, não sei se será adequado aceitar o convite.

- É perfeito… - Disse e colocando-se ao meu lado, ergueu ligeiramente o meu vestido e levou a mão às minhas pernas, subindo e comprovando que estava realmente sem cuecas. Tocou-me nos lábios e os meus olhos fecharam-se quase instintivamente. – E pouco depois, deixou-me e continuou a circular pela sala, mas eu ia sentindo, ocasionalmente, o olhar dele em mim e umas vezes devolvia-lhe o meu, outras ignorava, só porque sim.

A aula não tardou a acabar e cada um foi saindo. Arrumei as minhas coisas e caminhei na direção dele quando já a sala estava vazia.

- Onde vamos almoçar? – Perguntei.

- É surpresa, mas o almoço está em cada uma das bancadas. Recolhes por favor? – Pediu-me…- Pois vou buscar guardanapos, dois copos e uma garrafa de vinho para levarmos nesta cesta.

E não demorou muito e saímos dali os dois em direção ao carro dele que se encontrava no parque, tal como o meu. Estava curiosa para saber onde me levaria…e não muito longe dali, num parque da cidade, que eu não conhecia, rodeado de frondosas árvores, esticou uma manta, perto de uma delas, e depois uma toalha branca e foi dispondo cada uma das entradas que tinham sido preparadas. Fiquei extasiada só de o ver detalhadamente dispor tudo e sentei-me de um dos lados da manta e fui descendo uma das alças do vestido…

Ele não reparou logo nisso, pois estava demasiado concentrado em dispor tudo de forma perfeita…abrindo em último a garrafa de vinho e foi quando me entregou o copo que percebeu a minha provocação. Percebi que as calças dele rapidamente ganharam um volume diferente, a ereção destacava-se e eu não consegui conter-me. Dei um gole no copo de vinho e aproximei-me dele.

- Seria muito estranho antes de começar por estas entradas que se prepararam na aula, eu começar por te lamber o caralho aqui? – Pergunto já nem querendo saber da resposta, porque o encosto à árvore perto de nós e começo a abrir-lhe o fecho das calças.

- Que pretendes Eva? – Perguntou ele depois de eu ter o caralho na mão…já bem duro.

- Saborear…desfrutar…sentir…não é esse o lema das aulas?

- É, mas a aula já acabou… - Diz-me muito sério e eu começo a lamber o caralho dele, sem esperar pela resposta dele…uma e outra vez, molhando-o todo. – Eva… - Diz o meu nome envolto em pecado…e paro pouco depois, propositadamente a meio.

- Passamos àquelas entradas? – Perguntei eu afastando-me dele.

- Se pensas que vamos sair daqui sem foder…estás muito enganada. – Diz-me ele, fechando as calças, mas eu mantendo o vestido ligeiramente descido e subo-o, provocadoramente…deixando-o ver mais do que só as pernas.

- Partilhamos? – Pergunto-lhe oferecendo-lhe um um canapé com tomate cherry e queijo mozarela. E ele aceita, saboreando uma das entradas…e depois devolve-me uma tosta com cebola caramelizada e creme freche.

- Hmmmm…. – Sim, eu precisava de foder….e não ia aguentar muito tempo.

Bebi mais um gole do vinho branco que ele escolhera para o nosso almoço e peço para se encostar, mas sentado, junto à árvore, levando comigo uma pequena taça com cogumelos salteados e um pequeno garfo.

E depois sentei-me em cima das pernas dele, pedindo-lhe que segurasse na pequena taça de cogumelos, enquanto eu habilmente lhe tirava o caralho para fora.

- Provamos? – Perguntei…deixando o caralho dele deslizar para dentro da minha cona, já bem molhada…

- Contigo eu provo tudo…e de todas as formas. – E fomos comendo os cogumelos, enquanto fodíamos, à medida que íamos saboreando aquela entrada.

- Cuidado com o que desejas… - Digo, pegando noutra entrada: uma tosta com uma fina camada de queijo de cabra, mel e noz.

- Isso é uma ameaça? – Perguntou-me quando a cadência dos movimentos já só me permitia montar o caralho dele…

- Hmmm…Eva…

E nesse momento ele baixa-me completamente as alças do vestido e começa a lamber-me os mamilos, deliciando-se em colocar mel e lambê-los, enquanto eu me venho…deixando-me inclinar para trás e colocando o meu corpo à mercê dele. Agarra-me as ancas e é o nome dele que digo quando estou perto de ter outro orgasmo:

- Daniel… - E o orgasmo dele coincide com o meu.

- A simbiose perfeita…sabor...cheiros…cor…e….

- Não vais dizer amor, pois não? – Pergunto eu, tentando recompor-me…mas ele detém-me.

- Amor sim…porque não? – Pergunta ele, dando-me um beijo e procurando a minha língua, e deixo-me levar, sem querer saber o caminho.

- É cedo para amar… - Digo quando os nossos rostos estão ainda próximos.

- O amor não se mede pelo tempo…mas pela intensidade da entrega, da partilha…do prazer…

- Então eu gosto deste tempo…- Digo enquanto dou novo gole no copo de vinho.

E naquele momento o meu telefone toca e vejo o nome da Paula no visor e atendo.

- Olá Paula. Sim, já acabaram as aulas desta semana. – E ouço-a perguntar como correram e o que estou a fazer. - Depois explico-te…mas neste momento só te consigo dizer que estou a fazer amor…. – E desliguei o telefone e coloquei-o em silêncio porque sabia que ela não se ia contentar apenas com aquela explicação.

- A fazer amor? Agora já é amor? – Perguntou ele olhando-me demoradamente.

- Não era essa a principal lição a reter das aulas de culinária? – Perguntei, mas não propriamente para ele me responder.

- Sim…mas no meio do amor, por vezes tropeçamos no pecado. – Diz-me.

- Eu diria que isso é muito original, mas acho que já o ouvi algures. – Disse…sabendo exatamente onde tudo começou e onde iria acabar.


FIM

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